Riachuelo: a batalha naval que mudou o rumo da Guerra do Paraguai
- Anderson Gabino

- 11 de jun.
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11 de junho de 2025 – 160 anos da Batalha Naval do Riachuelo
Por Anderson Gabino
Há exatos 160 anos, em 11 de junho de 1865, o Brasil consolidava sua superioridade naval em uma das batalhas mais emblemáticas de sua história: a Batalha Naval do Riachuelo. Travada nas águas do rio Paraná, próximo à foz do arroio Riachuelo, no atual território argentino, a vitória brasileira não apenas enfraqueceu decisivamente o poderio naval do Paraguai, como também consolidou a importância estratégica da Marinha Imperial na Guerra da Tríplice Aliança (1864–1870).
Contexto de guerra

O conflito, o maior da América do Sul, envolveu Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai de Francisco Solano López, que visava expandir suas fronteiras e projetar poder sobre a Bacia do Prata. A intervenção brasileira no Uruguai e a instabilidade política na região serviram de pretexto para que o Paraguai iniciasse hostilidades, invadindo o território brasileiro em dezembro de 1864.
Em resposta, foi firmada a Tríplice Aliança. O domínio dos rios passou a ser prioridade, já que a navegação era vital para transporte de tropas, armamentos e suprimentos em uma região sem ferrovias. O Paraguai contava com uma marinha de porte respeitável, que ameaçava a presença brasileira no interior do continente.
A batalha
Comandada pelo Chefe-de-Divisão Francisco Manuel Barroso da Silva, a Esquadra Imperial encontrou-se ancorada no rio Paraná, com nove navios brasileiros em formação. A flotilha paraguaia, composta também por nove embarcações, tentou realizar um ataque surpresa. O plano inicial previa um ataque noturno, mas falhas de coordenação forçaram a ofensiva ao amanhecer do dia 11.
Mesmo em desvantagem momentânea, a Marinha brasileira reagiu com precisão. Às 9h, iniciou-se o combate. Em meio ao intenso fogo cruzado, Barroso comandou do convés da fragata Amazonas com firmeza. A célebre ordem — "O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever!" — ecoou entre os marinheiros, galvanizando a tropa em um momento decisivo.
Ao longo do dia, os navios brasileiros enfrentaram bombardeios da artilharia de margem, abordagens inimigas e diversas tentativas de desorganizar sua formação. Um dos momentos mais dramáticos foi o cerco à corveta Parnaíba, atacada por três navios paraguaios. Nela, destacou-se o heroísmo do marinheiro Marcílio Dias, gravemente ferido em combate, e do guarda-marinha Greenhalgh, morto ao resistir à rendição.
A virada da batalha veio com a manobra ofensiva do próprio Amazonas, que abalroou e afundou navios paraguaios. Por volta das 17h30, a frota inimiga foi forçada à retirada.
Consequências estratégicas
A vitória em Riachuelo foi um divisor de águas. Praticamente toda a força naval do Paraguai foi destruída ou posta fora de combate. Isso permitiu à Tríplice Aliança garantir o controle dos rios Paraná e Paraguai, fundamentais para a logística e o avanço das tropas contra posições paraguaias, especialmente a fortaleza de Humaitá.

O sucesso reforçou a importância do poder naval brasileiro e levou à modernização da esquadra, com a incorporação de navios couraçados e o fortalecimento do Arsenal da Marinha. O episódio também elevou a moral da população e das tropas aliadas.
Personagens históricos
Dois nomes ganharam projeção nacional com o feito:
Francisco Manuel Barroso, promovido a Almirante e mais tarde agraciado com o título de Barão do Amazonas, foi considerado o grande arquiteto da vitória.
Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, era o comandante supremo das operações navais e responsável pelo planejamento e coordenação estratégica. Ele seria mais tarde reconhecido como Patrono da Marinha do Brasil.
Outros nomes também ganharam destaque: Marcílio Dias, que se tornou símbolo do sacrifício militar brasileiro, e Greenhalgh, reconhecido como herói da resistência na Parnaíba.
Legado e celebração
A Batalha Naval do Riachuelo é, até hoje, celebrada como o Dia da Marinha do Brasil. A data é marcada por cerimônias militares, desfiles navais e homenagens a veteranos e combatentes históricos. Mais do que uma vitória militar, Riachuelo consolidou a imagem da Marinha como instituição estratégica de defesa nacional e elemento de identidade histórica.
A força e a disciplina demonstradas naquele dia permanecem como referência nos valores cultivados nas Escolas Navais e nos navios da frota atual. Riachuelo é lembrança viva da coragem de uma geração de brasileiros que, sob a liderança firme de Tamandaré e Barroso, fizeram das águas um campo de glória.




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